quinta-feira, 17 de setembro de 2009

MEU PADRASTO ME ASSEDIA

Estamos no ano de 1980. Clarissa é uma jovem adolescente, 15 anos incompletos, sonhadora, quase responsável, filha de pais separados e uma mãe desequilibrada, rende-se ao seu pequeno mundo uma vontade enorme de ser independente.
Está terminando a oitava série, e não tem nenhum incentivo da mãe de continuar os estudos para uma vida acadêmica. No próximo ano já estão está reservando para ela um bom emprego de babá, na casa do irmão do patrão de sua mãe.
É filha única, mora nos fundos em uma casa de dois quartos sala e cozinha junto com sua mãe Maria Lucia e o namorado dela João Luis.
Clarissa não sai de casa para nada, volta da escola, come alguma coisa da geladeira, fecha-se em seu quarto e busca uma leitura qualquer, quando não dorme a maior parte do tempo. Por mais que a sua mãe se esforce, não é possível fazer com que a menina faça maiores trabalhos na arrumação da casa. Lava um prato aqui, limpa o quintal ali, outras coisas ela não faz.
Suas roupas são simples. Bem que ela queria ter mais opções, mas o salário de sua mãe não dá muito para esbanjamento. O João Luis, namorado dela, trabalha de empregado numa metalúrgica, mas o salário dele é dividido com pensão para a ex-mulher com quem teve duas filhas.
Larissa não gosta muito do namorado de sua mãe. Alguma coisa a deixa assustada quando ele está perto, sempre se afasta quando ele tenta tocar nela. Na semana passada, Clarissa resolver escrever suas magoas. Comprou um caderno espiral de 200 folhas e começou fazendo na primeira folha um cabeçalho bonito com seu nome. Colocou um adesivo colorido e escreveu:
DIÁRIO DE CLARISSA.
Não teve coragem de começar a escrever o que estava pensando naquele dia, resolveu esperar um dia com maior inspiração.
Ontem, chegando da escola, encontrou o namorado da sua mãe sentado no sofá da sala assistindo televisão. Passou por ele e falou um “oi” quase que inaudível, e seguiu direto para o seu quarto. João Luis, pegou o copo de cerveja que estava tomando e seguiu atrás dela. Antes que ela fechasse a porta do quarto, ele a segurou pelo braço , olhou bem prá ela e perguntou:
- O que deu na menininha hoje, não vai um beijinho no seu papai? Esta semana eu vou trabalhar à noite, e quero que você me prepare o almoço todo dia. E não quero gororoba não.
- Tá bom. Me solta! Eu só vou tomar um banho e já venho preparar o seu “almoço”.
João Luis afrouxou a mão, soltou Clarissa e ela fechou a porta do quarto. Depois , se enrolou na toalha e seguiu para o banheiro que ficava no corredor. Ao sair do quarto, ela percebeu o João que a seguiu com o olhar.
Após o banho, ainda com os cabelos molhados, foi para a cozinha preparar o almoço, que já sabia, era só pegar na geladeira e esquentar no fogão.
João Luiz, percebeu o barulho na cozinha, apanhou o seu copo com o último gole da garrafa e foi até lá. Ele já era um homem com seus trinta e oito anos, magro, jeito meio rude de falar, pouca formação escolar e um bigode que o fazia parecer um pouco mais velho que era.
- Vai demorar pra sair este rango aí? Eu já estou com muita fome – falou,colocando as mãos no cabelo da Clarissa – Sou capaz de comer qualquer coisa - continuou num tom de deboche.
- Tira a mão de mim! Você não é meu pai! – falou quase gritando.
- Calma, eu tava só sentindo o teu cheirinho. Pode continuar aí no fogão que eu espero.- disse voltando para a sala.
Já fazia algum tempo que o João Luis, assediava a Clarissa. Um dia ela prometeu a ele que iria contar pra a sua mãe, mas ele disse que se isso acontecesse ela iria se arrepender, pois segundo ele, a mãe iria acreditar mais nele no que nela. Hoje Clarissa tem muito medo dele. Já houve ocasião de ele tocar nos seios dela. Todas as vezes que ele bebia um pouco mais e ficava sozinho com ela em casa ele tentava alguma coisa, por isso ela ficava mais em seu quarto, para evitar um contato maior com ele.
Naquele dia, estava muito calor e Clarissa tinha vestido após o banho, uma bermuda e uma blusinha fina . Ela terminou de esquentar a comida, preparou um prato para ela, chamou o João para almoçar e seguia para o seu quarto para comer sossegada, quando foi surpreendida com as mãos rudes do padrasto:
- Vem cá, vamos almoçar juntos e conversar um pouco.
-Me solte! Eu não tenho nada para conversar com você. Você não se enxerga não? Deixa a minha mãe saber das tuas conversas que você vai ver.
- Ela não vai saber de nada , não é? Vai ficar tudo entre nós. Também vai falar o que? Não aconteceu nada?
- É bom não acontecer mesmo. Deixa eu ir pro meu quarto.
- Fica aqui, só um pouquinho, eu prometo que vou só conversar. Como pai, só como pai...- falou com uma voz mole de uma pessoa alcoolizada.
- Tá bom. Mas você fica aí no seu canto. – determinou.
- Me conta uma coisa Clarissa: - perguntou o João preparando o prato. - Você já tem um namoradinho, tem? Outro dia eu fui lá na tua escola e vi você saindo com um cabeludinho. Eu não falei nada para a sua mãe, mas se você começar a dificultar as coisas pra mim eu vou acabar falando.
- Pode falar, eu não fiz nada de mais. Eu só tava conversando com ele. Ele é meu colega de classe.
- Não foi só isso que eu vi. Teve também umas conversas encostado no muro. Depois deve ter tido coisas que eu não vi, mas eu posso adivinhar. Você sabe que se eu falar, a sua mãe acredita. Foi ela quem mandou eu vigiar você de vez em quando.- falou com tom de ameaças.
- Você não sabe de nada, e vai me deixar em paz. – disse nervosa a Clarissa.
- Tá bom, vamos almoçar, depois a gente conversa mais.
Uns dez minutos de silêncio reinou na cozinha. Clarissa terminou de almoçar, levantou para guardar o prato e aproveitou para lavá-lo, quando sentiu o João encostar nela por trás.
- Lava o meu prato também. – falou colocando o prato na pia por sobre os ombros de Clarissa. Enquanto isso deixa eu brincar um pouquinho com essas perinhas lindas. – falou tocando nos seios da menina.
- Pára, João. Você está louco. Está bêbado. Tira a mão daí. – falou ainda segurando o prato que estava lavando. – Se você não parar eu quebro este prato na sua cabeça.
- Calma. Pensa bem. Se você fizer isso vai complicar muito prá você. Eu não vou fazer nada com você. Porque só o seu namoradinho pode tocar assim – falou tocando novamente a menina.
- Tá bom, João. Agora me deixa. Vai lá pra sala que eu vou para o meu quarto. – disse quase chorando a menina Clarissa.

Depois daquele episódio, Clarissa passou a tarde toda chorando. Depois dormiu e só acordou quando a sua mãe chegou e bateu na porta como sempre fazia.
- Acorda Clarissa, vem aqui me ajudar com as compras. Eu trouxe uns danoninho que você gosta.
O João Luis já havia saído para o trabalho do segundo turno e só voltaria de madrugada.
Clarissa não estava muito bem, mas a mãe nem percebeu, por isso não teve que explicar muito. Ainda bem! Ajudou a mãe até alem do normalmente fazia, depois do jantar se fechou no quarto e disse para que iria ler um pouco e não saiu mais de lá.
Hoje, depois da aula,encontrou com o seu “amigo “ da escola, conversaram bastante, ela não queria voltar tão cedo para casa, pois sabia que encontraria de novo o João.
Eram quase duas horas da tarde quando ela chegou em casa , e o João já dormia no sofá da sala. Passou na geladeira, pegou algumas frutas e foi para o quarto. Guardou o material na escrivaninha, pegou o seu diário e escreveu:

“Querido diário.hoje é terça-feira e acabei de chegar da escola. O João Luis está dormindo na sala. Eu acho que eu tenho ódio dele, eu não sei o que minha mãe viu nesse cara, ele é grosso, sem educação e não respeita ninguém. Ontem ele tentou me tocar de novo. Ele fez ameaças e disse que está me seguindo no caminho da escola. Eu estou com muito medo dele. Eu gostaria de falar isso pra minha mãe, mas ela não me dá oportunidade. Todas as vezes que eu tento falar com ela sobre o João Luis, ela o defende e me me fala um monte de coisas ruins: diz que eu não faço nada, que eu só sei dormir e que é ele quem ajuda a colocar as coisas dentro de casa.
Ele disse que sabe que eu estou paquerando o Júlio, um menino na escola. Disse que até viu nós dois juntos conversando encostado no muro da escola. Eu conversei bastante com o Júlio hoje, foi muito bom, porque ele se mostrou muito amigo e companheiro. Eu não disse nada pra ele sobre o que aconteceu ontem, só falei das minhas mágoas e das brigas minha mãe.
Eu gostaria que minha mãe fosse mais minha amiga. Tem uma colega na escola que fala de sua mãe com maior carinho, diz que ela sempre conta as coisas da escola pra ela, das paqueras e das emoções. Eu sei que minha mãe nunca vai entender o meu sentimento pelo Júlio Ela vai me dizer que eu ainda sou nova, que eu tenho que terminar logo o ginásio pra começar a trabalhar. Tem hora que eu penso em ir embora, sumir, mas eu nem tenho pra onde ir. Eu nem sei onde mora a minha avó. Tem uma tia que mora em Belo Horizonte, a irmã de minha mãe, mas ninguém sabe direito o endereço.
O Júlio falou de namorar comigo, eu disse pra ele que ia pensar. Eu acho que gosto dele. Ele me dá paz e me entende. Eu tive vontade mesmo é de dar um bruta beijo nele, mas eu sinto muito medo, principalmente depois que o João Luis me falou ontem que estava me seguindo.”

Bateu o cansaço. Um sono tranquilo a Clarissa sonhar um pouco de alegria. O Júlio parecia ser de confiança e dava segurança para ela. Era o seu porto seguro. Ela não sabia nada dele, só que tinha outros irmãos e os pais eram normais.
As conversas com Júlio ficaram mais frequentes durante a semana, era bom porque assim chegava mais tarde em casa e evitava se encontrar com o namorado de sua mãe.
Naquele dia chegou em casa muito atrasada. Já eram mais de duas horas e o João tinha saído. Talvez tivesse ido ao Banco pagar alguma conta ou ao Bar tomar a sua cerveja. Ou talvez, o que era pior, tivesse saído para segui-la desde a escola.
Não se importou. Tomou um banho, comeu alguma coisa e foi para o quarto, trancou a porta buscou o seu diário e escreveu:
“Querido diário..."
(continua na próxima postagem)

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